quarta-feira, 2 de abril de 2008

Em nome de Deus...


...almas impuras devem ser banidas para a danação eterna. Amém.


A Inglaterra está infestada dos mais temíveis seres da noite. Vampiros fazem suas vítimas em cada esquina, transformando-as em ghouls, escravos mortos-vivos. Trabalhando entre as sombras, a Ordem dos Cavaleiros Reais Protestantes da Hellsing – comandada pela jovem punho de ferro Integra Fairbrook Wingates Van Hellsing – existe exatamente para evitar que o país seja dominado pelas criaturas. Como principal arma, a organização abriga um ser secular cercado de mistérios, o vampiro Alucard, protagonista da história.
Entre os problemas causados pelos conflitos da Hellsing com o grupo Iscariotes da XIII Seção do Vaticano, surgem chupadores de sangue criados artificialmente. Quando a situação parece ter sido contornada, descobre-se que é muito mais complexa do que aparentava. Os vampiros artificiais são apenas o início da movimentação do Millenium, grupo remanescente do nazismo, que pretende continuar o trabalho iniciado há 60 anos pelo puro e simples gosto pela guerra que possui seu líder.
Esta é a premissa de Hellsing, mangá de Kouta Hirano, com capítulos publicados mensalmente na revista japonesa Young King Ours desde 1997. A série conta até o momento com 90 capítulos do mangá – ainda sem previsão de encerramento –, uma série animada para a TV com 13 episódios – cuja história segue uma linha oposta à dos quadrinhos a partir do episódio 3 – e 4 OVAs – lançados diretamente em DVD, seguindo fielmente a história original.
A grande mistura de elementos utilizada por Hirano nesta história é digna de atenção pela ousadia. Temos um vampiro overpower inspirado no livro Drácula, de Bram Stoker – leia a palavra Alucard ao contrário – que mais tarde mostra ser o próprio conde. Conflitos religiosos entre protestantes e católicos, que resolvem reassumir as Cruzadas Cristãs no intuito de aniquilar com a arma mais poderosa da Hellsing. Vampiros sendo utilizados pelos nazistas na frente de batalha. E uma lei da física – o gato de Schrödinger – para enfim conter o poderoso Conde Drácula e seu exército de vítimas feitas através dos séculos. Tudo isso culminando na total devastação de Londres.
Tal fusão de elementos pode parecer confusa e estranha à primeira vista, mas Hirano consegue amarrar a trama de forma excelente, despertando a curiosidade para o que vai acontecer no capítulo seguinte. Uma personagem muito bem utilizada é Seras Victoria, ex-policial salva por Alucard e por ele transformada em vampira, tornando-se sua aprendiz. Seras mostra durante a série os conflitos entre sua porção vampírica – violenta e com sede de sangue – e a humana que ainda existe em seu interior. Mas durante sua maior provação, seu lado monstruoso se sobrepõe, tornando-a poderosa.
Palavreado de baixo calão, a constante violência que enche com sangue as páginas do mangá e as cenas de sexo implícito mostram logo de início que a história não busca agradar a todos.
Hellsing é para amar ou odiar. Mas não para ser ignorado.


Camilla Lunas "Ety"
Imagens: Young King Ours